quinta-feira, 27 de setembro de 2012

PEQUENO MANUAL SOBRE ELEIÇÕS, ELABORADO POR QUINTUS TULLIUS, GENERAL E POLITICO NO ANO 64 A. C.

Em 64 a.C., Cícero, notável orador e político romano, embora não pertencente à aristocracia de onde saíam os que iriam dirigir os destino de Roma, apresentou-se como candidato ao posto de cônsul, o cargo mais importante na cena política de Roma. Seu irmão Quintus Tullius, general e político, produziu um memorando que denominou Pequeno Manual sobre Eleições, com o objetivo de ajudar o candidato na campanha que se aproximava e, como tudo parecia indicar, não iria ser nada fácil para o tribuno.



A revista Foreign Affairs publicou em maio/junho passado trechos do memorando de Quintus Tullius, que, pela sua atualidade diante do quadro das eleições municipais no País inteiro, tendo como pano de fundo o julgamento do mensalão, merecem ser aqui resumidos.
Os conselhos nele contidos podem surpreender pelo cinismo e pelo pragmatismo, mas mostram que os costumes e as práticas políticas não se modificaram substancialmente desde esses remotos tempos romanos. Em mais de 2 mil anos nada, ou quase, parece ter mudado. Os políticos mais experientes pouco terão a ganhar com o manual. Os iniciantes, contudo, poderão beneficiar-se de alguma das sugestões feitas para a conquista do sufrágio e do apoio dos eleitores.
O memorando aponta as duras e cruas realidades da política e oferece um roteiro pragmático ao candidato. Primeiro, prestando conselho sobre como ganhar a eleição; em seguida, analisando a natureza e a força da sua base política, além da necessidade de dar atenção a grupos específicos; e, finalmente, oferecendo uma série de conselhos práticos sobre como conquistar votos.

Segundo Quintus Tullius, são três as coisas que podem garantir votos numa eleição: favores, esperança e relações pessoais. E segue dizendo ao irmão: "Você deve trabalhar para dar esses incentivos às pessoas certas. Para ganhar os eleitores indecisos você pode fazer-lhes pequenos favores. Com relação àqueles em quem você desperta a esperança - uma grupo zeloso e devotado -, deve fazê-los acreditar que estará sempre ao seu lado para ajudá-los. Deixe que eles saibam que você está agradecido por sua lealdade e que está muito agradecido pelo que cada um deles está fazendo por você. Em relação aos que já o conhecem, você deve encorajá-los, adaptando a sua mensagem à circunstância de cada um e demonstrando a maior gratidão pelo apoio de seus seguidores. Para cada um desses três grupos de apoiadores, decida como eles podem ajudá-lo na campanha. E de que modo você pode pedir coisas a eles. Não deixe de dar atenção a cada um individualmente, de acordo com a sua dedicação à campanha.

Em cada vizinhança existem determinados cidadãos que exercem poder e podem ser pessoas-chave para a campanha. É necessário distinguir esses homens daqueles que parecem importantes, mas que não têm poder real. Reconhecer a diferença entre as pessoas úteis e as inúteis em qualquer organização evitará que você invista o seu tempo e recursos em pessoas que serão de pouca ajuda para você.

O candidato deve ser um camaleão, adaptando-se a cada indivíduo que ele encontra e deve mudar sua expressão e seu discurso quando necessário.

Mantenha por perto os seus amigos. E seus inimigos mais perto ainda. Depois de identificar quais os amigos com os quais poderá contar, dê atenção a seus inimigos. Ha três tipos de pessoas que poderão opor-se aos seus interesses: aquelas a quem você contrariou, as que não gostam de você e as que são amigas próximas de seus oponentes.

Para impressionar os eleitores, dê atenção a cada um deles, sendo pessoal e generoso. Nada impressiona mais um eleitor do que o candidato não se ter dele esquecido. Por isso, faça um esforço para lembrar-se de seus nomes e rostos.

Faça promessas de todo o tipo. As pessoas preferem uma mentira de conveniência a uma recusa direta. Prometa qualquer coisa a qualquer um, a menos que uma clara obrigação ética o impeça de fazê-lo.

A campanha deve ser competente, digna, mas cheia de vida e de espetáculo, o que tanto atrai as massas. Também não fará mal se você os lembrar de quão desqualificados são seus oponentes, acusando-os de crimes, escândalos sexuais e corrupção em que poderão estar envolvidos.

O mais importante numa campanha é incentivar a esperança no povo e criar nele um sentimento de boa vontade em relação a você. Por outro lado, você não deve fazer promessas específicas, quer para o Senado, quer para o povo. Fique em vagas generalidades: diga ao Senado que você vai manter os privilégios e poderes que tradicionalmente tiveram; deixe a comunidade de negócios e os mais ricos saberem que você é favorável à estabilidade e à paz; assegure ao povo que você sempre esteve ao seu lado, tanto em seus discursos como na defesa de seu interesse.

Onde quer que você ande, haverá de encontrar arrogância, teimosia, malevolência, orgulho e ódio. Não se deixe desencorajar pela conversa de corrupção. Mesmo nas eleições mais corruptas há muitos eleitores que apoiam os candidatos em quem eles acreditam, sem receber em troca nenhum pagamento. É possível que seus oponentes tentem usar o suborno para ganhar o apoio dos que estão com você. Deixe que eles saibam que você estará observando atentamente as suas ações e os ameace com processo nos tribunais. Eles ficarão com medo de sua influência no meio empresarial. Não será necessário levá-los aos tribunais com acusações de corrupção; o importante é que eles saibam que você está disposto a isso. O medo funciona melhor do que uma ação judicial. O que interessa não é o resultado da ação dos tribunais, mas a ameaça é importante como um instrumento para produzir o medo e a moderação dos adversários".

Cícero foi eleito...
E assim vem caminhando a humanidade.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

"Adeus, Lula, por Marco Antonio Villa

 


Transcrevo o esplêndido artigo de MARCO ANTONIO VILLA publicado no Globo desta terça-feira.
A presença constante no noticiário de Luís Inácio Lula da Silva impõe a discussão sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com um ex-presidente. Dos quatros que estão vivos, somente um não tem participação política mais ativa. O ideal seria que após o mandato cada um fosse cuidar do seu legado. Também poderia fazer parte do Conselho da República, que foi criado pela Constituição de 1988, mas que foi abandonado pelos governos ─ e, por estranho que pareça, sem que ninguém reclamasse.
Exercer tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer brasileiro. Continuar na arena política diminui a sua importância histórica ─ mesmo sabendo que alguns têm estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney, ou Fernando Collor. No caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente estar participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um misto de Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar e muito menos vivamos sob um regime totalitário.
As reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma Rousseff são, no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de publicizar ao máximo todos os encontros. É um claro sinal de interferência. E Dilma? Aceita passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos envolvendo as eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de que o PT criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do Planalto para despachar o expediente e cuidar da máquina administrativa, funções que Dilma já desempenhava quando era responsável pela Casa Civil; outro, permanece em São Bernardo do Campo, onde passa os dias dedicado ao que gosta, às articulações políticas, e agindo como se ainda estivesse no pleno gozo do cargo de presidente da República.
Lula ainda não percebeu que a presença constante no cotidiano político está, rapidamente, desgastando o seu capital político. Até seus aliados já estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas metáforas, das piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa. A cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram demonstrações inequívocas de que ele não mais arrebata multidões. E, em especial, o comício de Salvador é bem ilustrativo. Foram arrebanhadas ─ como gado ─ algumas centenas de espectadores para demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era evidente. Os “militantes” estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam e receber os 25 reais de remuneração para assistir o ato ─ uma espécie de bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi patético.
O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua vontade. É feio. Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir: 1. Cinco partidos para assinar uma nota defendendo-o das acusações de Marcos Valério; 2. A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um simples artigo de jornal; 3. Ministros do STF antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?
O ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou. Não reconhece que, como tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O que ele fala, não mais se realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem mágicos e não produto de uma sociedade despolitizada, invertebrada e de um fugaz crescimento econômico. Claro que, para uma pessoa como Lula, com um ego inflado durante décadas por pretensos intelectuais, que o transformaram no primeiro em tudo (primeiro autêntico líder operário, líder do primeiro partido de trabalhadores etc, etc), não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como diria um velho locutor esportivo, “não adianta chorar”. Agora suas palavras são recebidas com desdém e um sorriso irônico.
Lula foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer que Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do ex-presidente. E ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu pela política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da ousadia, se ele é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no quarto andar do Palácio do Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?
Mas, falando sério, o tempo urge, ex-presidente. Note: “ex-presidente”. Dê um tempo. Volte para São Bernardo e cumpra o que tinha prometido fazer e não fez. Lembra? O senhor disse que não via a hora de voltar para casa, descansar e organizar no domingo um churrasco reunindo os amigos. Faça isso. Deixe de se meter em questões que não são afeitas a um ex-presidente. Dê um bom exemplo. Pense em cuidar do seu legado, que, infelizmente para o senhor, deverá ficar maculado para sempre pelo mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de cobertura, na Avenida Prestes Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde sua história teve início. E, se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço sincero da sua vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a empáfia, a soberba. Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao Brasil.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Piazza San Marco, Veneza Bizâncio em Veneza: A Basílica de São Marcos - Parte II



Obra de arquitetura essencialmente bizantina, mas com traços românicos, góticos e renascentistas, a Basílica de São Marcos é inesquecível.

Muito se tem escrito sobre essa extraordinária construção e aqui vamos fazer uma pequeníssima descrição. Não é uma aula, é mais um momento para alegrar nosso espírito e despertar a curiosidade dos mais jovens em procurar ler sobre Veneza e suas joias.

Hoje é dia de falar do interior da Basílica, do seu esplendor. Não há um milímetro sem um mosaico, uma pintura, uma decoração de tirar o fôlego. Logo no vestíbulo, ficamos extasiados. Palavra, há qualquer coisa de estonteante ao sair da praça e entrar nesse espaço - um soco definiria bem, se não fosse um local de culto religioso... Vejam a primeira imagem abaixo: os mosaicos que falam da Criação.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Praça de São Marcos, Veneza, Itália



No alto do terraço duas grandes estátuas em bronze batem no sino para marcar as horas. Nomeados pastores por seu escultor, em 1494, o que combina com a pele de carneiro que cobre sua nudez, ficaram conhecidos como “os mouros”: alguns estudiosos dizem que isso foi para mostrar que havia escravos mouros em Veneza, aprisionados nas muitas guerras travadas por motivo religioso.


O sino onde batem cada um com seu martelo é o original e data de 1497. Os dois mouros não são iguais: o de barba é o mais velho dos dois. O velho bate o sino um pouco antes da hora, é o passado. O novo, o futuro, bate um pouco depois. Logo abaixo do terraço dos mouros em sua labuta está o leão alado de Veneza sobre fundo azul veneziano, salpicado de estrelas em ouro, com o Livro de São Marcos Evangelista aberto diante dele.
No andar de baixo, as imagens do Anjo Gabriel seguido dos Reis Magos saem e entram em procissão, duas vezes ao ano, Dia de Reis e Dia da Ascensão, para reverenciar Maria e o Menino Jesus, cuja imagem fica num pequeno balcão semicircular.


E finalmente, o quadrante do relógio, em mármore, esmalte e ouro, com as 24 horas do dia em algarismos romanos. O engenhoso aparelho mostra as horas, as estações do ano, as fases da Lua e os cinco planetas então conhecidos: Saturno, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio.

As horas são indicadas por um ponteiro dourado enfeitado por uma imagem do sol. Os signos do zodíaco giram mais lentamente que o ponteiro para mostrar a posição do sol no zodíaco. No centro do mostrador esmaltado em azul ficam a terra e a lua que gira para mostrar suas fases, cercadas por estrelas sempre na mesma posição.

No alto do terraço duas grandes estátuas em bronze batem no sino para marcar as horas. Nomeados pastores por seu escultor, em 1494, o que combina com a pele de carneiro que cobre sua nudez, ficaram conhecidos como “os mouros”: alguns estudiosos dizem que isso foi para mostrar que havia escravos mouros em Veneza, aprisionados nas muitas guerras travadas por motivo religioso.


O sino onde batem cada um com seu martelo é o original e data de 1497. Os dois mouros não são iguais: o de barba é o mais velho dos dois. O velho bate o sino um pouco antes da hora, é o passado. O novo, o futuro, bate um pouco depois. Logo abaixo do terraço dos mouros em sua labuta está o leão alado de Veneza sobre fundo azul veneziano, salpicado de estrelas em ouro, com o Livro de São Marcos Evangelista aberto diante dele.
No andar de baixo, as imagens do Anjo Gabriel seguido dos Reis Magos saem e entram em procissão, duas vezes ao ano, Dia de Reis e Dia da Ascensão, para reverenciar Maria e o Menino Jesus, cuja imagem fica num pequeno balcão semicircular.


E finalmente, o quadrante do relógio, em mármore, esmalte e ouro, com as 24 horas do dia em algarismos romanos. O engenhoso aparelho mostra as horas, as estações do ano, as fases da Lua e os cinco planetas então conhecidos: Saturno, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Piazza San Marco: A Piazzeta e as Procuradorias


O coração veneto bate em Veneza e o de Veneza bate na Piazza San Marco.
Definida por Napoleão como o mais belo salão de festas da Europa, rodeado de obras-primas, visitar
San Marco é um prazer inesquecível. Vamos começar pelo “portão” que dá acesso ao salão para quem vem do mar: a Piazzeta San Marco (foto abaixo), na verdade um prolongamento da grande praça, bem na margem do Canal Grande, e que tem de um lado o Palácio dos Doges e do outro a Libreria Sansoviniana, que abriga a Biblioteca Marciana.




Ali estão as duas colunas de granito originárias de Constantinopla: no topo de uma delas está a estátua de São Teodoro e no da outra, o leão de São Marcos.
Mas é ao atravessar a Piazzeta que entramos na praça monumental tendo, à direita de quem entra, o Palácio dos Doges, em seguida a Basílica. Os outros três lados são fechados pelas Procuradorias Velha, a Novíssima, dita Napoleônica, e a Nova. No ângulo formado com a Piazzeta e a Nova, fica o Campanário.
Sem discordar que a Piazza San Marco parece um belo salão de baile, gosto também de compará-la a um teatro: as três Procuradorias cercam a “platéia” que dá para o “palco” onde estão, em esplendor, o Palácio Ducal e a Basílica.
As Procuradorias são imponentes edifícios que têm esse nome porque ali se alojavam os Procuradores de São Marcos, o mais prestigiado cargo vitalício da República de Veneza, que só deviam obediência ao Doge. O primeiro procurador foi nomeado no século IX para cuidar da construção e administração da Basílica; em 1442, já eram nove os procuradores que formavam o Conselho Maior.
A Procuradoria Velha fica ao norte da praça; a Nova, ao sul; e a Novíssima, a oeste. A Velha mede 152 metros desde a Torre do Relógio até a Novíssima. Tem 50 arcadas que correspondem a 100 janelas nos dois andares superiores. A original, do século XII, foi destruída pelo fogo e a que vemos hoje é do século XVI.
A Nova foi iniciada em 1582 e respeita o desenho arquitetônico da primeira, o que colabora para a harmonia da praça. Ficou pronta em 1640. Já o edifício da Novíssima tem uma origem pouco nobre... Ali ficava, entre dois prédios, a Igreja de San Geminiano, uma das mais antigas de Veneza e da qual já se tinha notícia no século VI. Pois foi por vontade de um filho de Josefina, Eugênio, que se demoliu a igreja para unir as duas construções e assim fechar o “salão mais belo” com a ala Novíssima, ou "Napoleônica".
As três Procuradorias hoje abrigam nos andares superiores diversos museus, e a diretoria dos Museus Cívicos Italianos. Sob as belas arcadas, lojas de arte, joalherias e cafés, entre eles o inacreditável Caffè Florian, de 1720, ainda em funcionamento. Sentar numa das mesas externas do Florian e ficar olhando longamente a praça é um presente de Deus. Sente e agradeça.


Na imagem acima, a praça vista por Canaletto (1730) desde a Igreja de San Geminiano, que ficava onde hoje está a Procuradoria Novíssima. (à esquerda a Procuradoria Velha e à direita, a Nova)

sábado, 15 de setembro de 2012

O MENSALÃO E O VIOLINO

                                                                                                                                 Guilherme Fiúza


A elite suja e reacionária deste país está aplicando mais um golpe contra o PT. Este foi o alerta dado pelo presidente do partido, Rui Falcão. Ele ficou indignado com a condenação de João Paulo Cunha, no STF, por corrupção passiva e peculato.
Com a perspectiva de que outros réus do partido tenham o mesmo destino no julgamento do mensalão, Falcão ameaçou: “Não mexam com o PT, porque quando o PT é provocado ele cresce, reage.”
Reage mesmo. E reage com patriotismo. Por sorte, o Sete de Setembro estava chegando, proporcionando mais uma ótima ocasião para Dilma Rousseff falar diretamente ao seu povo, sem passar pela mídia burguesa — que, segundo Falcão, é uma das agentes do golpe, junto com o Judiciário e outros vilões da elite suja.
O golpe é contra o operário e a mulher que mudaram este país. Mas a mulher reagiu no Dia da Independência.
Dilma só disse coisas boas em cadeia nacional de rádio e TV. O melhor do seu pronunciamento, porém, foi o fundo musical. Com a sutileza própria dos revolucionários, que endurecem sem perder a ternura, entraram na comunicação presidencial um violino choroso e um piano adocicado, ornando com perfeição o melodrama dos oprimidos, que resistem firmes ao golpe dos reacionários.
Pronunciamento oficial com fundo musical é um dos maiores avanços trazidos pelo governo do PT. Era o que estava faltando aos nossos governantes: um pouco mais de emoção — especialmente naquele horário, logo antes da novela.
Dilma e Lula não têm tido gancho para chorar em público, mas o violino chorou maravilhosamente por eles, numa versão romântica do Hino da Independência.
Bem que o presidente do PT avisou para não mexer com eles.
Num pronunciamento oficial com toques de showmício, evidentemente o que é falado é o menos importante. E está certo que seja assim. Ninguém vai querer que o telespectador, contando os minutos para ver Carminha, fique prestando atenção na numeralha do Brasil-potência que o PT construiu.
E isso é ótimo, porque só o que faltava era esperarem que a presidente, com todo o trabalho de cabeleireiro, cenografia e trilha sonora, ainda tivesse que dizer coisa com coisa.
Como diz o Hino da Independência, já raiou a liberdade no horizonte do Brasil — inclusive a liberdade de dizer a essa brava gente o que lhe der na telha. Foi desse jeito livre que Dilma Rousseff anunciou uma redução nas tarifas de energia, naturalmente sem mencionar que devia R$ 7 bilhões aos brasileiros por cobranças indevidas nas contas de luz. Mas isso não combinaria com piano e violino.
Também aproveitou a liberdade no horizonte para não dizer que a bondade elétrica do governo popular vai lhe custar R$ 21 bilhões.
A outra boa notícia é que o governo não passa cheque sem fundo: o contribuinte cobre tudo. E cobre feliz, ao som de violino e à luz da economia que ele acha que vai fazer.
Provavelmente foi por isso que Dilma encerrou seu pronunciamento de Sete de Setembro dizendo “viva o povo brasileiro”. Talvez pudesse arrematar com um “Deus lhe pague”.
Viva o povo que aprova o governo do PT, e o protege desses golpes da elite suja e da mídia conservadora. Lula e José Dirceu também prometem reagir, denunciando à OEA o atentado aos direitos dos réus do mensalão.
De fato, é preciso proteger os seus direitos de ir e vir entre os cofres públicos e a caixinha do partido. Se a OEA, a Anistia Internacional e outros organismos progressistas tiverem dúvida, é só prestarem atenção às palavras do ministro Ricardo Lewandowski. Ele já declarou aos seus colegas do Supremo que está em curso um julgamento “heterodoxo”. Ou seja: um julgamento muito estranho, talvez suspeito.
Lewandowski e Dias Toffoli, os ministros heterodoxos com amizades ortodoxas na corte petista, estão dando o melhor de si. Votaram pela absolvição de João Paulo Cunha e vão tentando aliviar o sócio de Marcos Valério que pode ligá-lo a Dirceu. É confortante saber que essas vítimas da elite suja não estão desamparadas. País limpo é país sem sujeira.
O ideal seria que o julgamento do mensalão fosse todo transmitido por boletins da presidente em cadeia nacional, com violino. A mídia golpista ia ver o que é bom para tosse — e para as eleições.
O importante é isso: não deixar que a elite suja desmascare os companheiros limpos, e assim golpeie sua imaculada máquina eleitoral.
Se o eleitorado desconfiar que o país caminha apesar de um governo parasita e perdulário, pode querer desalojar os companheiros de suas cadeiras públicas — o que seria um grave problema social.
O currículo da própria presidente não deixa dúvidas: não se sabe o que seria dessa brava militância sem a bênção do voto (e do emprego que dele emana).
A heroína argentina já está ouvindo panelaços. O tango da viúva melodramática começou a desafinar. Por aqui, a trilha sonora do oprimido, por incrível que pareça, continua dando para o gasto.


AINDA SOBRE O MENSALÃO

                                                                                                                  Tarcísio Brandão de vilhena
 
Talvez muitos ainda não saibam, mas ministros do Supremo Tribunal Federal - como regra geral- levam vidas discretíssimas, e deles, a esmagadora maioria da população ignora até os nomes. Entretanto, com o julgamento do mensalão, estão sendo reconhecidos e aplaudidos em restaurantes, shopping centers e parques públicos em Brasília.
A começar, pelo que se poderia prever, pelo severo relator do caso, ministro Joaquim Barbosa.
O vento purificador que, até agora, vem soprando desde o Supremo Tribunal Federal no trato implacável que a maioria de seus ministros tem conferido ao processo do mensalão faz sentir seus efeitos.
Repito, para alguns leitores apressados: A MAIORIA de seus ministros. Não todos.
Não sei como terminará o julgamento. Ainda falta muita coisa — muitas acusações a serem comprovadas, muitos réus a serem escrutinados, muitas horas de trabalho dos ministros.
Mas, sem querer parecer otimista, ouso dizer que uma condenação rigorosa de altos figurões da República, como se esboça, possa ser um divisor de águas num país que há décadas vem melhorando em quase todos os setores, em quase todos os indicadores sociais e econômicos — mas que ainda chafurda na miséria moral da impunidade dos poderosos, no escárnio dos que roubam o dinheiro público, na empáfia de quem frauda e assalta o alheio sorrindo, de gente capaz de falsificar remédio para câncer a fim de ganhar dinheiro sabendo que não vai para a cadeia, ou de matar pelas costas uma ex-namorada, ser réu confesso e ainda assim, com advogadões, conseguir permanecer dez anos em liberdade após ser condenado antes de, finalmente, ser encerrado numa cela.
















quarta-feira, 12 de setembro de 2012

MALHOA, Pinturas - Retratos: Laura, Clara e o mestre-escola

 

No apogeu das reuniões do Grupo do Leão, Malhoa começa também a se interessar por retratos. O que lhe atraía era tentar capturar o espírito de seu modelo, seu pensamento e em suas telas retratar a alma portuguesa. Veremos alguns desses retratos durante esta semana.


Começamos com o de uma menina, Laura, pintada em 1888. A tela faz parte do acervo do Museu José Malhoa, erguido em Caldas da Rainha, terra natal do artista. Muitos anos depois, em 1950, a retratada, já com o nome de casada, Laura Sauvinet Bandeira, doou seu retrato ao museu e dizem que na ocasião ela deixou escapar: “Eu era muito bonita!”.

É a obra mais conhecida de Malhoa. E só podemos concordar com Laura – ela era mesmo bonita.

Sua expressão serena, seu olhar tranquilo não mostram, no entanto, o que registros escritos deixaram como testemunho: a ansiedade da jovem para que as horas de pose, cansativas e maçantes, terminassem logo... O que é mais do que natural numa menina de 12 anos.




É um belo retrato: a paleta de cores muito bem escolhida, a pele luminosa, os lindos cabelos e o porte elegante. Nas mãos as flores que seriam muitas vezes pintadas por Malhoa, as hortênsias. Mas o que mais chama a atenção é o jogo de luz e sombra que ele tão bem utilizou, o que era uma marca de suas telas.

Pouco tempo depois, Malhoa adquire casa de campo em Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria. Ali, além de figuras que ama retratar, redescobre os temas populares que o encantarão ao longo da vida. O Portugal sentimental e bucólico, o mesmo que Eça retrata em A Cidade e as Serras, quando Jacinto de Thormes troca Paris pela aldeia serrana.

Um exemplo é o retrato de Clara, a linda aldeã que transmite vitalidade e bom humor. Foi pintado em 1918.

Segundo registros do museu, Malhoa viu em Clara uma das personagens do romance As Pupilas do Senhor Reitor, de Julio Dinis.



(detalhe)



São muito diferentes as duas meninas-moças. Laura é mais jovem, mas Clara não deve ter ainda 20 anos. Vidas díspares, uma citadina, a outra camponesa, mas são as duas muito representativas das moças portuguesas. É só passar uma temporada por lá que encontraremos Claras e Lauras, não com as mesmas vestes, nem nas mesmas posições. Mas os rostos, a expressão, o olhar, a feminilidade, isso que Malhoa captou tão bem, esses ainda são os mesmos.

E por último o mestre-escola: junto a uma janela aberta sobre uma paisagem rural e luminosa, ele lê o jornal. Como sempre, é o domínio da luz que impressiona em Malhoa. A luz natural de um dia de verão se contrapõe à luz interior que com certeza não permitia que o mestre-escola lesse com vagar o seu jornal.




 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Portugal e Brasil nos pincéis de Malhoa

 
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -

Os temas históricos sempre interessaram ao pintor. Recebeu o 1.º prêmio no Concurso para Quadro Histórico promovido pela Câmara Municipal de Lisboa com a “A Partida de Vasco da Gama para a Índia”.

E aqui no Rio, numa viagem feita em 1906, a convite do Real Gabinete Português de Leitura, ele realiza duas obras que remetem aos estreitos laços que nos unem a Portugal. Ambas pertencem à pinacoteca daquela biblioteca.

São duas de suas mais belas telas. Primeiro falo da que retrata o Infante D. Henrique, um dos filhos de d. João I de Portugal, fundador da Dinastia de Avis, e de Filipa de Lencastre – os pais da chamada ínclita geração, que bem merece esse título.

Do sonho e da fé desse homem extraordinário saíram as viagens marítimas que desbravaram o mundo...

A tela “representa Dom Henrique sentado no desvão de um cachopo, no Promontório de Sagres. Contempla o espadanar das ondas nos rochedos, como se estivesse a estudar o regime dos ventos e os mistérios do mar. Na irisação formada pelas espumas contra o sol e no recorte das nuvens vê a concretização do seu grande sonho: “o sonho bendito que haveria de dar novos mundos ao mundo” (do site do Real Gabinete Português de Leitura)




Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quiz que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou creou-te portuguez.
Do mar e nós em ti nos deu signal.
Cumpriu-se o Mar, e o Imperio se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

(Mensagem: Mar Portuguez, O Infante – Fernando Pessoa)


A outra tela é sobre a chegada de Cabral ao Brasil. E começo pela descrição de Pero Vaz sobre o primeiro escambo e sobre a tranquila soneca do gigante adormecido:

(...)Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo.

Isto tomávamos nós assim por assim o desejarmos. Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não o queríamos nós entender, porque não lho havíamos de dar. E depois tornou as contas a quem lhas dera.

Então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem maneira de cobrirem suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. O Capitão lhes mandou pôr por baixo das cabeças seus coxins; e o da cabeleira esforçava-se por não a quebrar. E lançaram-lhes um manto por cima; e eles consentiram, quedaram-se e dormiram.





É um quadro que desperta minha curiosidade. Explico: a mim me parece que nosso Cabral não tem o ar feliz de quem atinge seu objetivo depois de tantas provações. Tem um ar meio aborrecido... Seria essa a intenção de Malhoa? Mas vejam bem, isso é a opinião de uma palpiteira...



domingo, 9 de setembro de 2012

Javier Arizabalo, pintor hiperrealista

 



javier-arizabalo-01
O francês de Saint-Jean-de-Luz Javier Arizabalo, pintor hiperrealista, demonstra em sua obra um olhar carinhoso para a velhice (veja as reproduções no final do post), mas é para as mulheres que guarda a maior porção de sua delicadeza.
Esculpe, com pincéis, corpos – nus – e tudo o que fazem parte de seu universo: sentimentos, esperanças, sonhos e prazeres.
Sua obra ostenta dupla entrega: a do próprio pintor, que dá vida a um imaginário latente, vívido, prazeirento e lânguido, e a do modelo, que confia que seu reflexo espelhe o que de melhor tem a oferecer.
Nas suas palavras: “A “arte” ou o “fazer” são por e para a vida humana; como tudo o que é real, o são por “razões” (sentido, vontade…). Faz tempo que utilizo a arte para curar-me, alimentar-me; resolvo os desejos a partir das imagens que re-presento, é maravilhoso”.
Arizabalo é um daqueles artistas que, por alguma razão, não dá títulos a seus quadros. Isso, naturalmente, não muda a qualidade de seu trabalho.

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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

LOGGIA DEI LANZIGGIA-FLORENÇA-ITÁLIA

 FIGURAS HISTÓRICAS E MITOLÓGICAS NA LINDA "LOGGIA"


Como já dissemos, são 13 as estátuas abrigadas sob a Loggia dei Lanzi. Já falamos das três mais renomadas e que não ocupam essa posição por nenhum outro motivo senão o da excelência de sua execução: Perseu e a cabeça da Medusa, de Cellini, e O Rapto das Sabinas e Hércules e o Centauro, de Giambologna.

As outras estátuas que completam o rico acervo da Loggia, são O Rapto de Polixena, de Pio Fedi, Menelau e Patroclo, cujo autor é desconhecido, mas que é uma relíquia romana, os dois leões já mencionados e seis figuras femininas, em mármore branco, que ficam junto à parede do fundo.


Acima detalhe de uma das cinco Sabinas que podemos ver na Loggia. Não se sabe ao certo se é da época de Trajano ou de Adriano. Encontrada em Roma, em 1541 ou 1584, sabe-se com certeza que está em Florença desde 1787 e na Loggia desde 1789.

A estátua Romana de Menelau e Patroclo (foto abaixo) tem uma história polêmica. Alguns historiadores dizem que foi descoberta num vinhedo a menos de um quilômetro de Roma; outros que foi encontrada em meio às ruínas do Fórum de Trajano. (Resumir o episódio da Ilíada que envolve Patroclo, Aquiles e Menelau é um tour de force acima de minhas forças. Por isso o link).

O que se sabe sobre essa obra ao certo é que pouco antes de 1570, Cosimo I de Médici a comprou e obtida a permissão do papa Pio V, a levou para Florença. A primeira menção oficial à estátua está justamente no testamento de Cosimo I, de 1574.






Ela ficou anos numa das pontas da Ponte Vecchio. Depois disso, no decorrer de mais de dois séculos, passou por inúmeras restaurações até ser colocada na Loggia dei Lanzi. Apesar da restauração de um dos braços de Patroclo ser objeto de muitas críticas e do elmo de Menelau não ser em absoluto igual aos desenhos da época em que chegou a Florença, ainda assim é uma das maiores atrações da Loggia por sua origem Romana e por representar um dos mais pungentes episódios da Ilíada de Homero.

O Rapto de Polixena, de 1865, (imagem abaixo) é obra de Pio Fedi. O desespero de Hécuba diante do corpo do filho morto ao ver sua filha Polixena ser raptada a mando de Aquiles, o assassino de seu filho, pode ser sentido nessa estátua magnífica que conta outro episódio do poema de Homero.






Aqui um breve resumo: Polixena é filha de Hécuba e do rei de Tróia; Aquiles mata seu irmão Troilus diante dela; depois, ele se apaixona por ela. Louco de paixão, resolve raptá-la; foi nesse convívio forçado que ela descobriu o único ponto fraco de Aquiles: seu calcanhar é vulnerável e ela conta o segredo a Paris. O resto da história, só em livros sobre mitologia grega ou lendo Homero...

Mas depois me digam se uma visita à Loggia não é o máximo


terça-feira, 4 de setembro de 2012

A Nudez Feminina, a intimidade, a água ---na pintura hiperrrealista da americana, Alissa Monks

 

OS LEÕES QUE PROTEGEM FLORENÇA

 


Recordando: construída entre 1376 e 1382, a Loggia era um centro cívico, onde os cidadãos da República de Florença se reuniam para debater e resolver os problemas da cidade e também nas ocasiões públicas mais solenes, como posse dos governantes.

Chamada de Loggia della Signoria por estar situada ao lado do palácio do governo, o Palazzo Vecchio, ao abrigar temporariamente, em 1527, os Lanzicheneschi, soldados mercenários do Sacro Império Romano, passou a ser chamada de Loggia dei Lanzi, nome pelo qual ficou mais conhecida.

Quando a República é derrubada, e a cidade passa a ser regida pelo Grão-Ducado da Toscana e as instituições republicanas são definitivamente suprimidas, a arcada passa a acolher estátuas de muito valor e com isso torna-se o primeiro museu público do mundo.

A 'loggia' é um ponto de encontro em Florença, uma pausa para os viajantes e um lugar de contemplação para os apaixonados por esculturas. Essa é uma cidade onde a beleza está em toda a parte, mas a Loggia dei Lanzi, com seus tesouros à disposição de quem por ali passa, é um dos locais mais queridos da cidade.

Reparem nos leões ao lado dos degraus de acesso, os dois protetores de Florença. São duas fantásticas obras. O da direita é uma relíquia romana. O da esquerda é obra de Flamino Vacca, de 1600. Esses animais simbolizam guarda e proteção contra presenças negativas, segundo tradição iconográfica herdada de civilizações mesopotâmicas.


ao fundo, janelas e balcões da Galleria degli Uffizi




O grão-duque tomou o cuidado de zelar para que só fossem enviadas para a Loggia obras que tivessem um vínculo com a história de Florença. Perseu foi escolhido por dois motivos: a magnificência da obra e o gesto do herói, decapitando a experiência republicana na cidade, simbolizada pela cabeça da Medusa.

As mais expressivas estátuas obedeceram ao mesmo critério: representarem a vitória do grão-ducado, que significava ordem, contra a anarquia republicana: essa a força dos duques junto aos habitantes de Florença.






Em 1583, quando as obras no palácio dos Uffizi terminaram, o arquiteto Bernardo Buontalenti teve a feliz ideia de criar, no alto da Loggia, um terraço do qual era possível assistir às várias cerimônias e espetáculos que aconteciam na linda Piazza della Signoria. Para proteção dos espectadores, colocou um gradil circundando o terraço.

Hoje lá está um café para os felizes visitantes dessa apaixonante cidade.



 


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

FLORENÇA E A SUA EXTRAORDINÁRIA GALERIA ABERTA SOBRE A PRAÇA


Seu nome é Loggia della Signoria, é mais conhecida como Loggia dei Lanzi, mas para os florentinos é simplesmente a 'loggia'. Monumento histórico situado na Piazza della Signoria, praça central e coração de Florença, à direita do Palazzo Vecchio (sede do poder civil) e vizinha da Galleria degli Uffizi (o Museu de Belas Artes que foi ateliê e oficina de artistas artesãos).






Loggia significa galeria, arcada aberta. A loggia de Florença recebeu o nome Lanzi porque ali acamparam os Lanzichenecchi, ou soldados mercenários que serviam ao Sacro Império Romano. O termo é derivado do alemão Landsknecht (Land = terra + Knecht = servidor). Eles ali se abrigaram em 1527, a caminho de Roma, e a Loggia passou a ser chamada de Loggia dei Lanzi, numa abreviação do nome alemão.

Construída entre 1376 e 1382, por ser local coberto, servia para a realização de assembleias públicas e cerimônias oficiais da República. Não tem um estilo definido. Poderia ser considerada gótica se não fossem as arcadas renascentistas.

Quando caiu a República, e foi criado o Grão Ducado da Toscana, e ela passou a não mais servir como centro de assembleias dos cidadãos, deram-lhe a destinação de abrigar obras de arte. Isso fez da Loggia um dos primeiros espaços de exposição publica do mundo.

São treze as esculturas que se pode contemplar de perto a qualquer hora do dia e da noite e sem comprar ingresso... São belíssimas, mas sem dúvida a mais famosa é Perseu com a cabeça da Medusa (1545/1554), também conhecida como o Perseu de Cellini, a primeira das estátuas ali colocadas e a única encomendada expressamente para o local.






Considerada a obra prima do verdadeiro joalheiro-escultor Benvenuto Cellini, a escultura, em bronze, está colocada no alto de um pedestal todo esculpido pelo grande artista. Perseu segura a cabeça da Medusa pelos cabelos e olha para baixo, em direção ao espectador. Com a mão esquerda empunha a espada curva que lhe foi dada por Mercúrio, de quem é protegido.

O pedestal, por segurança removido dali no século XX e substituído por uma cópia, é outra obra-prima: os pequenos bronzes que o adornam representam divindades ligadas ao mito de Perseu. O original está seguro no Bargello, museu de esculturas, também em Florença.

O Perseu de Cellini, depois de uma restauração prolongada, voltou a ficar em exposição na Loggia dei Lanzi e é obra que merece toda a atenção de quem se interessa pela difícil arte da escultura: é perfeita.



domingo, 2 de setembro de 2012

ESPELHOS DE ÁGUA - A PERDIÇÃO DE NARCISO


O espelho das águas - a perdição de Narciso
 
Connta o mito grego que o belo moço que recusava o amor de mulheres apaixonadas foi atraído por Nêmese, a deusa da vingança, a um riacho para matar a sede. Quando avistou sua imagem refletida nas águas, tão apaixonado ficou, tão bobo diante de tamanha beleza, Narciso deixou-se ali ficar, a admirar-se de si, a encantar-se com seu reflexo até atirar-se nas águas e morrer – um castigo divino por haver esnobado a ninfa Eco, que morreu de tristeza.


FAMÍLIA BRANDÃO DE VILHENA

quinta-feira, 2 de setembro de 2010



Dr. Serafim e Dona Marina
Ana Maria de Lourdes, Maria Elisa, Serafim Jr., Maria Eugênia, João Bráulio, José Augusto, Maria do Rosário, Tarcísio, Luiz Paulo, Ruy e Mauricio
Dona Elisa e Dona Maria Carlota
Hora do Recreio

Herbert von Karajan - Filarmônica de Berlim - As Quatro Estações




De Antonio Vivaldi: Inverno (
A CIDADE DA CAMPANHA
COMO, QUANDO E ONDE SURGIU A CIDADE DA CAMPANHA

Muito antes de 1700 começaram as entradas dos paulistas, que vinham caçar índios com o fim de escravizá-los. Logo após, os bandeirantes, atraídos pela fama que corria das ricas minas de ouro descobertas em Minas Gerais. É então que se esboçam os primeiros rudes povoados que indicando a localização da antiga riqueza aurífera e de diamantes de Minas Gerais, constituíram o início da vida civilizada dos sertões de Minas, onde encontravam-se princípios de uma sociedade. Fato que motivou o Governador da Provincia de Minas Gerais, Dom Martinho de Mendonça de Pina e Proença, enviar uma expedição chefiada pelo o Ouvidor da Comaraca do Rio da Mortes, Cipriano José da Rocha a essa região da Provincia.
O Ouvidor partira de São João Del Rei no dia 23 de setembro de 1.737, chegando ao Povoado no dia 2 de outubro no mesmo ano de 1.737. Cipriano José da Rocha, ao chegar ao povoado, ficou entusiasmado com a fertilidade do seu solo e com as riquezas das minas de ouro encontradas, e deu ao povoado o nome de São Cipriano. O nome da atual cidade – Campanha - se deve à topografia, pois a cidade se encontra localizada numa colina circundada por extensas campinas. Campanha é a cidade mais antiga do Sul das Minas Gerais – cidade histórica reconhecida oficialmente em 02/10/1737 – povoação iniciada no ciclo do ouro. Elevada à freguesia em 06/02/1752, à vila em 20/10/1798 e à cidade em 09/03/1840.Campanha desde o século XVIII esteve presente em fatos históricos do Brasil e de Minas. Dentre eles, teve participação no episódio da Conjuração Mineira. Dr. Inácio de Alvarenga Peixoto, um dos conspiradores, viveu em Campanha, onde possuía inúmeras fazendas e era um dos homens mais ricos de Minas, no seu tempo. O esgotamento das minas, alegado por aqueles que se esquivavam ao pagamento de seu débito para com o físco, já na segunda metade do século XVIII, acentuava-se cada vez mais, prenunciando o fim de uma era de grandeza.
A comarca do Rio da Mortes estendia-se até a margem direita do Rio Verde onde já floresciam as vilas de Baependi e Pouso Alto. Com a expansão das terras Campanhenses, os limites da comarca do Rio das Mortes passaram além da margem esquerda do Rio Verde, foram além do Vale do Rio Sapucaí,, subiram a Serra da Mantiqueira, indo até as cabeceiras do Rio Pardo e Jaguari, ou seja, as terras da Campanha iam ate o atual Estado de São Paulo. Quinze anos depois de fundado o arraial já se tornava freguesia, em 1752, e, vários arraiais e povoações haviam surgido ao longo do seu imenso território. A vila da Campanha fundada em 1798, influiria na vida religiosa, social, política e cultural de todos esses povoados, entre os quais podemos citar Ouro Fino, Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre, Itajubá, Silvianopolis, Varginha, Três Corações, Conceição do Rio Verde, Cambuquira, São Gonçalo do Sapucaí,Lambari e Jesuânia. O rio Lambari serpenteia descendo a serra do Pouso Frio, próximo a Cristina, segue por entre as serras do Bom Jardim e da Bocaiúva a leste de Jesuania e Lambari.Circula entre as Serras do Tapajós e do Cigano, ao sul de Cambuquira, e desviando-se para o nordeste, cai nas águas do rio verde. Apenas dois afluentes o atingem neste trajeto: O rio Mumbuca,a alguns quilômetros do Matadouro e o Ribeirão do Melo, na serra da Bocaina. Conforme foi visto, Lambari teve na origem do seu desenvolvimento, assim como as demais localidades da região, as terras da Campanha foi denominada: Inicialmente, Arraial de São Cipriano. Em seguida, Freguesia de Santo Antonio do Vale da Piedade da Campanha do Rio Verde. Depois, simplesmente, Campanha do Rio Verde. Depois, de Campanha da Princesa. No Brasil-Imperio, a 9 de Março de 1840, passa a ter o titulo de Cidade da Campanha ( lei mineira n. 163, parágrafo 2 do Art. 1 da citada data )

Os primeiros moradores


Na Segunda Carta do Ouvidor Cipriano José da Rocha a D. Martinho Mendonça de Pina e Proença, Governador da Provincia, dizia o seguinte: "vê-se que vai entrando muita gente: tem mantimentos em abundância e bom cômodo, e continuamente estão entrando carregações”.Depois de algumas pesquisas nos documentos da época, podem ser considerados como povoadores do lugar:

1 – Antônio de Sousa Portugal, natural de Santo André de Guiães, Feira no Bispado do Pôrto, casado com Antônia da Graça de Jesus natural de Baependi e filha de Domingos Nunes de Siqueira (de Taubaté) e de Clara Moreira (de Jacareí).

2 – Luís Colaço Moreira, natural de Guarapiranga e filho do Sargento-mor Inácio Moreira de Alvarenga e de Ana Barreto de Lima. Pedro Taques menciona-o como “um dos primeiros povoadores da Campanha do Rio Verde”. Casou-se nesta localidade com Leonor Domingues de Carvalho, filha de Antônio Cardoso Bicudo e de Maria de Camargo de Almeida. Sua mãe (Ana Barreto Lima) aqui faleceu a 6 de maio de 1751;

3 – Capitão Manuel Garcia de Oliveira. Era Capitão-mor “o primeiro que conta o Arraial”. Achava-se provido desde 27 de janeiro de 1737 para Aiuruoca, Rio Grande e Paraibuna. Com ele entendeu-se o Ouvidor e pediu-lhe que também superintendesse o novo Arraial.

4 – Francisco de Araújo Dantas. Era natural de S. João de Itaboraí, Rio de Janeiro, e casado com Catarina Pedrosa de Almeida, natural de Pitangui. Foram pais do Descobridor das Águas Virtuosas, Antônio de Araújo Dantas, aqui batizado a 21 de janeiro de 1741.

5 – Henrique de Costa, natural de Caparica, Lisboa, casado com Jerônima Maria de Jesus, natural de Baependi e ali moradores, anteriormente.

6 – Domingos Gonçalves Viana, natural de Arcozelo, Braga, e filho de Manuel Gonçalves e de Serafina Alves. Era casado com Branca Teresa de Toledo, filha de Salvador Corrêa Bocarro e de Ana Ferreira de Toledo. Muitos campanhenses atuais descendem desse tronco.

7 – Alferes André da Silva Tourinho, natural de Conceição do Rio Grande e Carrancas. Foi casado com Maria da Silva Leme, natural da mesma localidade.

8 – Domingos de Araújo, natural de São Tomé de Lhanas, Lamego, filho de André de Araújo e de Ana Francisca. Era casado com Maria Caetana de Sá, natural de Ferros, Lisboa, filha de Atanásio de Sá e de Josefa Maria.

9 – Domingos Xavier Machado, casado com X. (Seu filho homônimo faleceu com 20 anos em Campanha, de onde era natural, a 2 de julho de 1757). Era casado com Paula Moreira. Foi um dos ribeirinhos do Rio Verde.

10 – Manuel Vás Guimarães, natural de São Pedro de Avação(!), Guimarães, e filho de Antônio Vás e de Ana Francisca. Era casado com Antônia Cardoso, natural de Guaratinguetá e filha de João Rabelo Crasto (sic) e de Maria Bicuda. Moravam antes em Aiuruoca.

11 – André Vieira da Fonseca. Em 1741 foi padrinho de batismo de Lizarda, filha de Miguel Antônio da Cunha e de Domingas Barbosa.

12 – Baltasar Gomes Lima, natural de Santa Marinha de Arcozelo, Braga, filho de Lourenço Gomes e de Ventura Lima. Era casado com Maria Cardoso, natural de Aiuruoca e filha de Manuel Vás Guimarães e de Antônia Cardoso.

13 – João Gonçalves Figueira, filho de Manuel Afonso Gaia e de Maria Fernandes Figueira. Foi casado 2 vezes, a 1A com Maria de Lara (51), filha de Lourenço Castanho Taques e de Maria de Araújo; a 2º com Josefa de Almeida, filha do Cap. Tomé Alvares e de Ana Maria de Almeida. Assevera Taunay que João Gonçalves Figueira “depois de ser juiz ordinário e dos órfãos em Santos e regente das minas de Paranapanema, afundou no sertão para junto dos irmãos”. É um dos signatários da Irmandade do Santíssimo Sacramento, desta localidade.

14 – Francisco Martins Lustosa,Coronel de Milicias Natural de Santiago de Lustosa, no Bispado de Braga (donde o cognome), e nascido em 1700, filho de Antônio Martins e de Ângela Gomes. Foi tabelião em Mogi das Cruzes, em 1732, ali se casando com Maria Soares de Jesus, filha de Domingos de Carvalho e de Teresa de Jesus. Em 1736, era residente em Alagoa de Aiuruoca, onde leva a batismo Teresa, no dia 15 de julho. Em 1737, 21 de abril, é recebido na Irmandade do Santíssimo, em Aiuruoca. Logo depois, convidado pelo Capitão Manuel Garcia de Oliveira, vem residir na Campanha, onde foi “comerciante e cortador de gado”. É um dos signatários do auto de posse do Arraial, em 1743. Em 1745, é recebido na Irmandade do Santíssimo Sacramento, na Campanha
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15 - Mathias Gonçalves Moinhos de Vilhena, Coronel de Milícias -, Natural de São João Del Rei, filho do Capitão Mathias Gançalves Moinhos de Vilhena, natural do Senhorio de Monte Alegre,Portugal, casado com Joséfa de Morais Sarmento. O Coronel Mathias era donatário da sesmaria de Lavras do Funil. É um dos signatários da ata de elevação do arraial em Vila, em 1798. Casado com Iria Claudina Umbelina da Silveira, irmã de Barba Heliodora

Primeira Igreja

A primeira e antiga Matriz de Santo Antônio, a primeira igreja construída na Campanha, então Freguesia de Santo Antônio do Vale da Piedade da Campanha do Rio Verde, pela vontade e pela fé dos pioneiros e bandeirantes que habitaram estas ricas e aprazíveis terras, no limiar do séc. XVIII.Entre 1737 a 1742, a igreja foi construída, nela se despendendo nove mil oitavas de ouro, pela Irmandade do Santíssimo Sacramento. Não era esse templo de pequenas dimensões, pois havia no seu interior 93 sepulturas e estava situado pouco abaixo da atual Catedral, na parte em que a Praça Dom Ferrão se larga, nas imediações dos jardins e das estátuas do Mininistro Alfredo Valladão e do cientista e sábio Vital Brazil Mineiro da Campanha. Durou relativamente pouco essa nossa primeira Igreja Matriz, pois em 1800, já tinha aspecto de ruínas. Em seu adro existia uma cruz, ao pé da qual foi enterrado, sem nenhuma pompa e no hábito do seu Padre São Francisco, de que era terceiro, por sua última vontade manifestada em testamento que fez antes de falecer em 20 de dezembro de 1748, o grande bandeirante Capitão-mor João de Toledo Piza Castelhanos.
A segunda igreja construída na Campanha foi a da Nossa Senhora do Rosário, por Provisão Régia de 1759. Segundo descrição de Francisco de Paula Ferreira de Rezende, em sua obra “Minhas Recordações”, a Igreja do Rosário esta colocada acima da Matriz, no ponto mais alto da colina em que a povoação se assenta, justamente no lugar em que, naquele tempo, acabavam as casas e começava o campo. Sem nenhuma arquitetura e sem torres, o seu sino ficava do lado de fora. A mais alegre de todas as festas da Campanha era a festa dos negros, isto é, a de Nossa Senhora do Rosário e como vulgarmente se dizia a “subida do Rosário”. Essas festas, as congadas, com os seus vistosos “ternos” e animadas “embaixadas”, há anos passados, tivemos oportunidade de assistir e admirar. Houve tempo que, com o desaparecimento da antiga Matriz e achando-se a nova, atual Catedral em construção, a Igreja do Rosário foi a única e a mais importante da Campanha, sendo aí celebrados os ofícios religiosos. Assim foi por ocasião da morte de D. Maria I, a 20 de março de 1816, em que as suas exéquias solenes, com Missa e sermão, foram realizadas nesse templo. Essa igreja foi inexplicável e simplesmente demolida, edificando-se, muito mais tarde, outra, no fim da Chapada.
A igreja de Nossa Senhora das Dores é a terceira em antigüidade e foi concluída em 1799 pelo rico minerador, José de Jesus Teixeira. Felizmente aí está, na plenitude de sua beleza e de seu estilo colonial de linhas puras.
A Igreja de São Sebastião, edificada em 1805, foi a última a ser demolida, dado o seu estado precário, mas foi substituída por outra mais bonita e mais ampla e com uma praça em frente.
A primitiva Capela Santa Cruz, construída por volta do ano de 1848, fora do perímetro urbano, na localidade denominada de Árvores Bonitas, foi consumida por um incêndio tido como criminoso. Substituiu-a a Segunda Capela, em 1895, em uma elevação no fim do Bairro das Almas e, mais tarde, por se achar em ruínas, foi demolida, até que, em seu lugar, foi edificada a terceira e atual Capela de Santa Cruz, em 1938, no mesmo belo e aprazível local.
A catedral de Santo Antônio – Sua pedra fundamental foi lançada no dia 21 de janeiro de 1787, em solenidade presidida pelo pároco local Pe. Bernardo da Silva Lobo, com assistência de grande número de fiéis e membros das irmandades. Foi construída pelos escravos e levou 35 anos para ser concluída. Foi feita em taipa, de terra da melhor qualidade, conduzida de grande distância, por toda gente sem distinção de sexo, idade, fortuna e posição social, sendo notável a solidez da obra, cuja espessura de 1,80m a todos causa admiração. Em 1925, foi modificada a sua fachada, descaracterizando-a completamente e dando assim novo aspecto à fachada e torres. Em 1937 e 38 D. Inocêncio Engelke, 2º bispo diocesano, às suas expensas, manda cercar a Catedral com uma grade de ferro. Várias reformas foram feitas ao decorrer dos anos. Em taipa, é o maior templo católico de Minas e um dos três maiores do Brasil.

Evolução Eclesiástica

Irmandades

A Irmandade de SS. Sacramento autorizada por D. Frei João da Cruz, Bispo do Rio de Janeiro, a 22.08.1742. O termo de abertura entretanto, é de 20.09.1745, quando assinaram os primeiros irmãos, tendo rendido a reunião, só naquele dia 777 oitavas de ouro.A Irmandade das Almas segundo diversos registros de óbitos e a Confraria de Nossa Senhora do Terço.Com o aparecimento da Irmandade de SS. Sacramento ambas se lhe agregaram e desapareceram oficialmente apenas figurando a do Santíssimo, com toda a vitalidade e esplendor.

Padroeiro.

Santo Antônio de Lisboa (português) Nasceu em 1195 e viveu até 1231. Naturalíssimo portanto a aposição de seu nome à povoação nascente e ao córrego que a rodeia e banha.1º batizado foi em 1739 (não consta nos livros da paróquia, porque lhe faltam as primeiras páginas, consta entretanto, de um relatório, do Vigário, que se encontra na Cúria Diocesana.O termo de abertura do 1º livro data de 1747. Nota-se ainda que o 1º Vigário se chamava Antônio (padre Antônio Mendes), anteriormente Vigário de Carrancas.

Origens

A Diocese da Campanha, foi criada pelo Decreto Pontifício Spirituali fidelium, do Papa São Pio X, a 8 de setembro de 1907. A execução desse Decreto foi confiada à Nunciatura, sendo então nomeado Administrador da novel Diocese D. João Batista Corrêa Nery, Bispo de Pouso Alegre. No ano de 1889, o Internúncio apostólico D. Francisco Spoverini, então em uso de águas medicinais em Lambari, visita Campanha. Sua estadia nesta cidade foi causa de ser levantada a idéia da criação de um Bispado Sul-Mineiro. Mas, veio a separação da Igreja do Estado e impediu a concretização das aspirações populares. No ano de 1891, novamente Bernardo Saturnino da Veiga, proprietário do Jornal O Monitor Sul-Mineiro, expede circular aos Padres do Sul de Minas e lhes lembra a inadiável necessidade de se pedir a criação de um Bispado com sede em Campanha, o que iria premiar toda região sulina. Na oportuna circular aparece um decidido apoio unânime e contribuições espontâneas para a criação de nova Diocese. As subscricões que se fizeram para tanto chegaram a atingir 9:000$000, quantia avultada para a época. De novo se interpôs outro contratempo. No ano de 1897, agita-se com mais veemência a acalorada idéia, mas agora bipartida, porque duas cidades ambicionavam o título: Campanha e Pouso Alegre. O movimento campanhense foi liderado pelo Vigário Cônego José Teófilo Moinhos de Vilhena (era o dia 17 de abril) e o de Pouso Alegre pelo nortista Padre José Paulino de Andrade. Houve representações de ambas as cidades ao Internúncio e ao Bispo de São Paulo, D. Joaquim Arcoverde. Os pouso-alegrenses foram mais felizes: tiveram, também, o apoio de Silviano Brandão, Governador do Estado e mais tarde vice-presidente da República. Foi criada a Diocese de Pouso Alegre pelo Decreto Regio Iatissime Potens, a 4 de agosto de 1900, porém com a possibilidade de ser desmembrada, quando necessário. Para dirigi-la foi transferido do Estado do Espírito Santo, D. João Batista Corrêa Nery. Uma de suas preocupações foi escolher um bom vigário geral, para o desempenho de uma tarefa de tanta responsabilidade. E a escolha recaiu na pessoa do Padre João de Almeida Ferrão, nomeado para tanto a 28 de outubro de 1901. Foi a primeira vitória campanhense, porque não se opôs o prelado Pouso-alegrense ao movimento de outra Diocese sulina. Pelo contrário, deu inteira permissão a seu primeiro Vigário Geral e o deixou agir com segurança e tato, nessa melindrosa questão.
No ano de 1903, uma representação composta dos campanhenses Dr. Américo Lobo (Ministro do Supremo Tribunal Federal), Dr. Olímpio Valadão (Deputado à Assembléia Geral). Agora recomendada por D. Joaquim Arcoverde, então transferido de São Paulo para o Rio de Janeiro, segue para a autoridade eclesiástica constituída. Nesse mesmo ano, querendo inteirar-se de toda situação, o Sr. Núncio Apostólico D. Júlio Tonti visita Campanha. Era o dia 22 de abril. A população o recebeu festivamente, quando foram ouvidos inúmeros discursos e aplausos e todos se mostravam esperançosos. Naquele dia estiveram em Campanha 40 sacerdotes com representações de 102 paróquias sul-mineiras. Nessa oportunidade, todos pediram ao representante do Santo Padre a transferência do Bispado para Campanha. Melhor seria – analisamos hoje – que fosse solicitada a criação de uma Nova Diocese. Houve promessas, houve esperanças.
No ano seguinte, 1904, a Comissão recorre ao eminente Joaquim Nabuco, Diplomata brasileiro, então em Roma. E Sua Excia. responde, no dia 09 de junho, que iria interceder perante o Dr. Breno Chaves, ministro junto ao Vaticano, para alcançar o que todos almejavam. Dele chegam os "augúrios, expressos com muita confiança: “muito desejarei ver a Campanha reviver, tão admirável é a sua oposição”.Incansáveis se mostram Monsenhor João de Almeida Ferrão, Padres José Maria Natuzzi e Miguel Martins e os Srs. Deputados Joaquim Leonel de Resende, Gabriel Valladão e Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior. Continuam as “demarches” nos anos seguintes, agora com mais expectativa, de vez que estava já constituído o Patrimônio e escolhida a casa que iria servir de Palácio Diocesano, O magestoso sobrado de propriedade de Monsenhor João de Almeida Ferrão, herdado de seu pai, o rico minerador, Capitão Francisco Ferrão de Almeida Trant. Enfim, foi criado o Bispado da Campanha.

Urbanismo

Ruas

Seguem o urbanismo medieval português e mourisco, isto é, o curso das ruas explora o relevo, sendo irregulares de largura variável, com cordoamento não planejado, sobem ladeiras íngremes. As ruas ligavam pontos de interesse: largos, igrejas e comércio.Em fins do século XVIII novos planejamentos surgem, inclusive do plano em xadrez que às vezes deixa ruas impraticáveis tal a inclinação. Era importante não ter verde para contrastar com o rural. Eram de terra batida, pedra e hoje paralelepípedo. No século XIX, dá-se início à arborização dos espaços públicos e afastamentos das casas dos limites dos lotes ganhando jardins frontais. No século XX a tendência é um planejamento de uma estrutura com jardins.
Em Campanha aparecem as ruas com nomes característicos dos séculos passados, como:
-Rua Direita: Chamava-se Rua Direita por levar direto de um lugar a outro. Teve o nome de Saldanha Marinho e hoje Rua Saturnino de Oliveira.
-Rua do Fogo: Chamava-se assim por ser o lugar onde os escravos buscavam os braseiros para acender os seus fogões a lenha. No final da rua existia uma grande fogueira e todos que por ela passavam eram obrigados a atirar lenha para alimentar a fogueira e mantê-la sempre acesa. Recebeu depois o nome de Rua Princesa Izabel e atualmente Rua Dr. Brandão.
-Rua do Comércio: Destinada ao comércio, pois ali existia um antigo mercado da cidade. Passou a chamar Rua Conde D’Eu, mais tarde Rua Tiradentes, Rua Cândido Ferreira, atualmente Rua Vital Brazil.
-Rua das Almas: Atual Rua Santa Cruz. Inicia-se após a ponte de pedras chamada “Ponte das Almas”, com arco romano sobre o Rio Santo Antônio no Largo da Estação. A rua levava direto à capela que se encontrava no local chamado Árvores Bonitas. Costumava-se sempre lá celebrar missas dedicadas às almas do purgatório.
-Rua da Prata: Totalmente em pedra bruta escolhida. O centro era mais baixo que as laterais, o que facilitava o escoamento das águas pluviais. Atualmente Rua Perdigão Malheiro, jurista campanhense.
-Rua do Hospício: Atual Rua Bernardo da Veiga. Era a rua das rancharias e hospedarias, hospitais, hospícios. Do latim, hospitium, significa hospitaleiro. São na realidade modificações dos antigos mosteiros medievais. Foram sempre as irmandades e ordens terceiras que cumpriram o papel de velar pela saúde pública. Eram casas religiosas que recebiam peregrinos em viagem, sem retribuição. Hoje corresponderiam aos hospitais e albergues. Recolhiam órfãos, velhos, loucos, doentes. Quase todos os seus prédios datavam da 2a metade do século XVIII.
-Rua da Forca: Assim chamada pois no final da rua existia uma forca. Nela foram feitos enforcamentos sendo o último narrado em livro de Francisco Paula Ferreira de Rezende “Minhas Recordações”. O réu só conseguiu ser enforcado na terceira tentativa, pois a corda sempre arrebentava. Por fim, o carrasco subiu em seu ombro conseguindo, assim, o seu estrangulamento. Era feito um grande cortejo que passava por todas as ruas da cidade, indo à frente o réu, o padre, o carrasco e um surdo que batia chamando a atenção dos moradores. Atrás acompanhavam todos os moradores adultos. As mulheres não tinham participação nessa cerimônia. Hoje a Rua tem o nome de Alexandre Stockler.
-Rua do Bonde: Sua origem era a linha do bondinho que vinha de São Gonçalo do Sapucaí até o Largo da Estação. Hoje o seu nome é Rua Evaristo da Veiga.
-Rua do Chafariz: Chamava-se assim por causa do Chafariz construído em 1853, que tinha a finalidade de abastecer a população local e principalmente os tropeiros que comercializavam em troca de ouro. Teve várias denominações: Rua da Máquina de Algodão, Beco do Chafariz e hoje Rua Dr. Cesarino.
-Travessa da Aurora com Ladeira da Fonte: Lugar onde a população buscava água para suas casas. Hoje a rua está fechada até a fonte do Mathias, pedaço compreendido entre a Rua do Xororó e a Fonte que ganhou o nome atual de Álvaro Horta com João Batista de Melo.
-Rua da Misericórdia: Assim chamada pois no final dela se encontrava a Santa Casa de Misericórdia, uma das primeiras Santas Casas de Minas Gerais e a primeira do Sul de Minas. Passou depois a chamar Rua Marechal Deodoro, Marechal Hermes, Benedito Valladares e hoje Av. Ministro Alfredo Valladão e Des. João Braúlio Moinhos de Vilhena.

Largos

Eram alargamentos de ruas para realçar os edifícios e desafogar a estrutura urbana. Só existia verde nos fundos de quintais das residências e nos largos para fins utilitários, plantio de ervas, plantas medicinais, floreiras. No século XIX aparecem como praças que valorizam outros elementos como teatro, escolas, os poderes executivo e judiciário. No século XX as praças passam a aglutinar feiras, mercados e atividades de lazer. Campanha contava com dez largos:
-Largo da Matriz: É o maior espaço da cidade. Aparece em frente à Matriz de Santo Antônio. No Largo da Matriz existia o Pelourinho. Ele ficava em frente a Casa da Intendência. Mais tarde, na passagem dos padres missionários, foi desmanchado e ergueu-se um cruzeiro. Existia ali também um chafariz que abastecia a população. Foi chamado depois de Praça da Igreja, Praça Floriano Peixoto e atualmente Praça D. Ferrão.
-Largo das Dores: Aparece em frente à Capela Nossa Senhora das Dores, construída no século XVIII pelo português José de Jesus Teixeira, que pagava seus escravos em ouro em pó. Ajardinado no século XX, recebeu o nome de Praça Dr. Jefferson.
-Largo da Cadeia: Aparece em frente à cadeia e Casa de Câmara. Ocupava lugar de honra na cidade. Foi sede da administração e justiça. Satisfazia às necessidades de serviços administrativos e judiciais, penitenciários e religiosos. A cadeia era o esteio do regime, aplicava penas pecuniárias e corporais. O seu sistema de composição era: Cadeia-Térreo e Câmara – 2o pavimento. Como servia também de manicômio tinha celas para loucos. Existia nela um sino do povo: ao tocá-lo o povo deveria correr para a Assembléia e decidir o que seria melhor para todos. Mais tarde passou a chamar Praça da Cadeia e Senador Valladão. Hoje loteado, deu lugar a várias residências e pontos comerciais e originou as ruas Getúlio Vargas e Senador Valladão.
-Largo São Sebastião: Antes chamado Beco São Sebastião, fica na frente da Capela de São Sebastião, construída em 1805. Atrás da Capela havia um enorme rego de enxurrada que vinha das ruas de cima. Colocava-se tábuas fazendo pinguelas dada a largura do rego. A primeira Capela edificada em 1805 foi demolida e construída outra no lugar em 1945. Mais tarde passou a chamar Senador José Bento e atualmente Praça São Sebastião.
-Largo da Estação: Localizava-se em frente à Estação de Trem. Estendia-se até a ponte das almas. Existia lá um grande campo de futebol fechado com bambus, com arquibancadas de tábuas. Com o desaparecimento do campo o Largo da Estação transformou-se em um jardim com um lago e sua pequena ilha. No fundo, um bosque de bambu açu, muito bem tratado, com bancos e iluminação. Havia na ponta do bosque de eucalipto um prédio de escola, mandado fazer pela prefeitura. Atualmente o local denomina-se Praça Zoroastro de Oliveira e em seu lugar existe a sede do Campanha Esporte Clube.
-Largo da Misericórdia: Aparece em frente à Santa Casa de Misericórdia, após a segunda metade do século XX. Mais tarde foi chamado de Praça da Santa Casa, Praça Monsenhor Paulo Emilio Moinhos de Vilhena. Hoje loteado tornou-se avenida Desmbargador João Braulio Moinhos de Vilhena, Benedito Valadares e Avenida Ministro Alfredo Valladão.
-Largo das Mercês: Ficava em frente à Capela das Mercês. Terreno íngreme, a capelinha sobressaía acompanhada de um grande número de árvores. Passou mais tarde a se chamar Largo Major Mathias Antonio Moinhos de Vilhena. Hoje o largo está loteado. No local existe o Posto de Saúde, Garagem da Prefeitura, Posto Policial e casas residenciais. As ruas que acompanham chamam-se Rua Dr. Cesarino, esquina com Cônego Antônio Felipe
-Largo do Rozário: Também chamado Alto Rosário. Era famoso por suas festas de congo. Cheio de ladeiras ingremes, tinha um cruzeiro de madeira em frente à Capela.Compreendia toda a extenção da atual Praça da Biblia e redondezas. foi também chamado Praça Julio Bueno.
-Largo do Cruzeiro: Sem nenhum ajardinamento ficava em frente ao cemitério local. Seu grande cruzeiro encontra-se hoje dentro da Vila Vicentina. Na esquina havia o começo de uma rancharia. Hoje, todo loteado, faz esquina com Rua São Vicente, Rua da Forca e Rua Martins de Andrade.

AGENTES EXECUTIVOS

Até 1930 a Chefia do Executivo Municipal ficava entregue ao Presidente da Câmara Municipal, então denominado “Agente Executivo Municipal”.
Depois de algumas pesquisas nos documentos da época, encontramos os Agentes Executivos da Campanha, somente a partir de 1884, considerando que Campanha foi elevada à cidade no ano de 1840.

Manoel Luiz de Souza – 1884 a 30/03/1884
Manoel Inácio Gomes Valladão– 31/03/1884 a 09/08/1892
Bernardo Saturnino da Veiga – 10/06/1892 a 30/03/1894
Ten. Cel. Manoel de Oliveira Andrade – 31/03/1984 a 08/04/1985
Tem. Cel. Ernesto Carneiro de Santiago – 09/04/1895 a 31/05/1897
José Braz Cesarino – 01/06/1897 a 07/01/1898
João Luiz Alves – 08/01/1898 a 01/11/1900
Dr. João Bráulio Moinhos de Vilhena – 02/11/1900 a 11/01/1901
João Inácio da Silva Araújo 12/01/1901 a 01/02/1901
João de Almeida Lisboa Jr. – 01/02/1901 a 27/04/1901
Francisco de Paula Araújo Lobato – 28/04/1901 a 01/06/1902
Dr. Francisco Honório Ferreira Brandão Filho – 02/06/1902 a 03/04/1905
Tem. Cel. Jerônimo G. Alvarenga Leite – 04/04/1905 a 15/10/1905
Manoel Eustáquio Martins de Andrade – 16/10/1905 a 31/12/1907
Cel. Zoroastro de Oliveira – 01/01/1908 a 07/10/1927
Dr. Jefferson de Oliveira – 08/10/1927 a 31/12/1929
Dr. Serafim Maria Paiva de Vilhena - 01/01/1929 a 31/12/1930


Tarcísio Brandão de Vilhena

http://www-vilhena.blogspot.com.br



sábado, 1 de setembro de 2012

MENSALÃO - Este post é do Sr. Reinaldo de BH

O VOTO DO MINISTRO LEWANDOWSKI







Sobre empresa de Marcos Valério: "Como lembrou o ministro Cezar Peluso (para vergonha de Dias Toffoli), trata-se de caso raro de empresa que ficou 5 meses sem faturar serviço algum!" (Foto: Nelson Jr. / STF)
Sobre empresa de Marcos Valério: "Como lembrou o ministro Cezar Peluso (para vergonha de Dias Toffoli), trata-se de caso raro de empresa que ficou 5 meses sem faturar serviço algum


Amigas e amigos do blog, este post é do leitor e amigo do blog Reynaldo-BH que, embora exerça hoje atividades na área da tecnologia da informação, foi durante largo período promotor de Justiça e compreende muito bem os mecanismos de funcionamento do Judiciário.
Confiram:

Li cuidadosamente, e por inteiro, o voto do ministro Ricardo Lewandowski que, diferentemente da esmagadora maioria de seus colegas do Supremo, inocentou o deputado João Paulo Cunha
E posso afirmar – sem ser arrogante ou um jurista – que foi absolutamente inconsistente.
Valeu-se de “verdades processuais” contra a “verdade real”. E esqueceu que ambas estavam expostas nos autos.
Usou um trecho (pequeno) do laudo da Polícia Federal (para inocentar) e abusou de um parecer do TCU que, na verdade, não é um tribunal jurídico, mas antes um orgão auxiliar do Legislativo.
Fez diferença entre o USO do dinheiro recebido por João Paulo, quando pouco importava se seria usado para comprar panetones (como os do famigerado ex-governador do DF Arruda) ou para bancar um carro novo.
Não viu – porque não quis – que as notas fiscais da empresa de publicidade eram sequenciadas: mesmo havendo um lapso temporal de 5 meses (!!!) entre a segunda e terceira. Como lembrou o ministro Cezar Peluso (para vergonha de Dias Toffoli), trata-se de caso raro de empresa que ficou 5 meses sem faturar serviço algum!
A tentativa de levar ao extremo o in dubio pro réu — o princípio que vem desde o direito romano de que, em caso de dúvida, a decisão deve favorecer o réu — atropelou a lógica jurídica: não falou em momento algum O QUE havia nos fatos que consolidassem a tese de defesa. Aceitou que somente o “não fiz” de João Paulo fosse suficiente.
Não foi um voto, foi uma peça de defesa
Não citou uma única corrente jurídica que embasasse a linha de argumentação. Não citou um único autor. Pinçava trechos de teses – as que interessava, tal qual um advogado de defesa, este sim com alguma razão – para reforçar a defesa do indefensável.
Não foi um voto. Foi uma peça de defesa e tentativa de desconstruir o trabalho do ministro relator Joaquim Brabosa, do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de juízes que fizeram oitivas em diversos pontos do país por encargo do Supremo, da Polícia Federal e de peritos criminais.
Foi contra a evidência. Desprezou depoimentos e acolheu outros. Não fez o contraditório (como os outros fizeram) no balanço probatório. Julgou que o corrupto, ao enviar a própria esposa receber a propina, fez prova de inocência (??!!??).
Tecnicamente não apontou UM único argumento jurídico que fosse reconhecido pelos pares. Como não foi. À exceção de.. deixa prá lá!
Juridicamente torceu os fatos, escolheu depoimentos, ocultou perícias, aproveitou trechos como fazem advogados que não tem mais nada a alegar.
Condenou Valério e Pizzolato com base nas mesmas provas (ou evidências) que usou para absolver João Paulo.
Dentro da mesma lógica – nada cartesiana – condenou um e inocentou outro.
Não aceitou a alegação de que o pacote de dinheiro entregue a Pizzolato foi – como o acusado dizia – destinado ao Partido.
E defendeu a ideia que João Paulo encomendou pré-eleitorais pesquisas 2 anos antes das eleições, com perguntas como “José Dirceu é inocente no caso Waldomiro Diniz?” e “O que você acha de João Paulo?”, considerando que as mesmas seriam normais no ambiente político.
Ou seja, distorceu os fatos no limite da vergonha.
Não creio que um voto assim seja técnica ou juridicamente sequer defensável.
Levandowsky fez o contraponto que anunciou que faria. Não contra o relatório de Barbosa.
Mas contra a verdade. Dos autos.
E juiz que agride os autos de um processo, nunca estará exercendo a função com dignidade técnica ou jurídica.
O ministro escolheu carimbar a própria biografia. Que viva com o selo com o qual se rotulou. A escolha foi dele.